DIA DO MALBEC 2020 - PRIMEIRA PARTE!!

Para um degustador experiente como eu, provar esses grandes Malbecs é acima de tudo uma oportunidade para analisar as tendências de mercado para essa uva incrível.

É nítida a tendência das bodegas e enólogos em buscar menos concentração, mais elegância nos vinhos, vinhos com um "meio de boca" com mais camadas, taninos mais finos e com uma sensação táctil mais mineral.

Métodos de vinificação como fermentação em "ovos ou tanques de concreto", fermentação em barricas novas francesas, a busca por novos terroirs e micro-climas cada vez mais específicos para a elaboração de vinhos de parcela ou de vinhedos identificados... enfim, a tendência é cada vez mais a busca pela especificidade, o detalhe e as sutilezas.

E os críticos especializados estão respondendo positivamente a essas novas tendências de elaboração. Basta ver as expressivas pontuações que os vinhos argentinos vêm alcançando nos últimos anos, notadamente com Steve Atkin, James Suckling e Patrício Tápia (Guia Descorchados).

Os preços vão no mesmo sentido, com vinhos cada vez mais caros e num patamar nunca visto para vinhos argentinos. Mesmo na Argentina alguns desses "Malbecs Cults" estão incrivelmente caros e a tendência é que esse caminho não tem mais volta.

Recentemente, por conta do dia mundial da Malbec, pude provar alguns ícones argentinos. Seguem minhas notas de prova.

Catena Zapata Malbec River Stones Malbec 2012, Gualtallary, Tupungato, Argentina, 14,1% de gradução alcoólica: vinho de parcela proveniente do vinhedo Adrianna de Gualtalarry.
Estilo mais magro, com menor volume de boca. É puro, limpo, com sutis notas florais e maior acidez Mineral em boca, com aquela nota de pedra moída, rocha, com retrogosto mediano e muito agradável.
Em nível de excelência (nota 93). É certamente um dos vinhos mais famosos e comentados da Argentina atualmente.
No site da vinícola diz que tem bastante carbonato de cálcio no solo e que o vinho pode envelhecer por décadas.
É importado pela Mistral a R$ 933,33.


Catena Zapata Malbec Adrianna D.V 2009, Gualtallary, Tupungato, Argentina, com 14,5% de graduação alcoólica: Já havia provado essa mesma safra anos antes e era o melhor Malbec dessa nova geração que havia provado até então.
E mantenho minha opinião, pois essa safra está incrível!! Na época eu dei 95 pontos, sendo a pontuação de Parker 97. Hoje eu dou 97 e acredito que com a maturidade é um Malbec rumo a perfeição.
Grande vinho! Íntegro, firme, elegante e mineral. Foi melhor que o River Stones na prova, pois tinha estrutura maior e mais volume de boca.
Grande complexidade, acidez vibrante. Potencial de guarda de 20 anos.
Mistral/indisponível no momento.


Michell Rolland Mariflor Camille 2009, Vista Flores, Valle de Uco, Mendoza, Argentina, com 16,1% de álcool: Bodega própria de Michell Rolland no Clos de los Siete, sendo este vinho o topo de gama.
Gosto muito dos vinhos do Mago, mas essa safra eu estranhei um pouco.
Uma "bomba enológica", com muito de tudo em todos os sentidos. Apesar de toda essa estrutura, o vinho mostrava-se ligeiramente cansado no nariz e na cor. Uma evolução estranha em se tratando de um vinho com muita estrutura.
Notas oxidativas lembrando ameixa seca, cravo da índia e mercúrio.
Enfim, é um vinho que eu não compraria, ao menos essa safra em particular.
Entre muito bom e excelente (nota 91).
Não é importado para o Brasil e é caríssimo na Argentina.

Monteviejo Malbec La Violeta 2011, Valle do Uco, Argentina, com 16,0% de álcool: vinho impressionante! Outro no estilo "super potente em tudo". Tem aroma de violeta mesmo! Escuro, quente, potente, quase doce. Taninos doces, baixa acidez. Longo e com leve amargor alcoólico.
Dentre todos os vinhos provados nesta noite, o La Violeta foi o que mais se destacou para muitos dos degustadores presentes. É impossível permanecer indiferente à efusão de aromas de violeta, chocolate, manteiga, mirtilos e ameixas.
É um vinho realmente impressionante, mas que pela graduação alcoólica extremada, fica difícil de bebê-lo sem se cansar. Diria que meia garrafa é suficiente para saturar o paladar.
É caríssimo também, mesmo na Argentina. Nota 95/97.
Pode ser encontrado no Mercado Livre por mais de R$ 900,00 a garrafa.

Enrique Foster Malbec Firmado 2013, Luján de Cuyo, Argentina, com 14,7% de graduação alcoólica: Malbec de alta gama! Um vinhaço, que para mim não deve nada aos demais desse painel.
Vinhedos bem antigos de Mayor Drumont e Las Compuertas de 1919 e 1966. Seleção bem rigorosa de cachos. Somente 5 toneladas por hectare.
O vinho já fermenta e macera previamente em tonéis de carvalho de 2500 litros de carvalho. Maloláctica em barricas novas francesas e 18 meses de estiba, além de mais 12 meses em garrafa antes de ser colocado no mercado.
Bem escuro, violáceo.
Altíssimo nível de elegância e complexidade. Vinho que merece ser conhecido.
Vinho para longa guarda.
Excelente (94).
Na Argentina custa entre 20 e 25 dólares a garrafa.
No Brasil pode ser encontrado na internet na faixa de R$ 300,00.

Zuccardi Canal Uco 2013, Paraje Altamira, Valle do Uco, Argentina, com 14,5% de graduação alcoólica: um dos ícones da Zuccardi e que representa um marco para a empresa em sua busca pela excelência. A expressão do terroir é incrível nesse vinho.
Com 98 pontos de Tim Atkin, foi eleito o "vinho do ano" em seu report de 2016. Também 96 de Parker.
O vinhedo está a 1100 metros de altitude em Altamira no Valle de Uco.
Nesse local é possível encontrar grandes pedras redondas cobertas com carbonato de cálcio, um dos melhores terroir para a Malbec e que está sendo muito buscado pelas bodegas atualmente.
O estilo é bastante moderno, com menos estrutura, aroma menos exuberante, com notas de ameixa fresca, terra molhada, algum engaço, tomilho e pimenta negra.
Em boca é mais fresco, com maior acidez e menor estrutura. Taninos presentes, finos, com ótima presença de boca.
É um Malbec diferente, sem dúvida, num estilo mais europeu eu diria.
Excelente (nota 93/94).
É importado pela Grand Cru a R$ 1.649,00 a garrafa.
https://www.grandcru.com.br/vinho-tinto-zuccardi-finca-canal-uco-2013-750-ml/product/ARZUC0849A13

Zuccardi Pedra Infinita Supercal 2015, Paraje Altamira, Valle do Uco, Argentina, com graduação alcoólica de 14,0%: outro dos ícones da Zuccardi focado num "terroir" específico de Altamira com grande proporção de carbonato de cálcio no solo. É o mesmo vinhedo de Altamira no Valle de Uco, mas apenas de uma pequena parcela marcada por pedras redondas cobertas com carbonato de cálcio.
Sinceramente, teria que ir ao local para entender a diferença de onde vem esses vinhos, pois provando os dois juntos eu os achei bastante similares.
O vinho está cru, muito jovem! Mas o estilo é o mesmo, fresco, mais ácido, com estrutura menor, e com aquele meio de boca tão proclamado pela crítica atual. Taninos finos, com uma granulometria muito sutil e rugosa como se fosse giz, pedra moída. Algo difícil de descrever, mas bastante perceptível quando se prova esse estilo de vinho.
Retrogosto mediano e vinoso.
Enfim, um vinho excelente, sem dúvidas, mas extremamente jovem (nota 93/94). Precisa de pelo menos 12 anos bem adegado.
95 pontos de Tim Atkin, 97 de Parker, 99 no Guia Descorchados nas safras de 2016 e 2017 (melhor tinto do Guia em 2017) e 97 da Revista Adega no Brasil da safra 2016. Enfim, um vinho superlativo e sem qualquer discussão atual.
Grand Cru, fora de estoque, mas o preço deve ser similar (R$ 1.649,00, por aí).


Deixo um agradecimento especial aos amigos Leo e Seba pelo evento e organização! Um abraço a todos os confrades que estiveram conosco e aos enólogos que participaram ativamente das Lives neste dia. OBRIGADO e até a próxima!!!!
















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