UM CLÁSSICO CHAMADO "GEORGES DE LATOUR CABERNET SAUVIGNON".

Ainda em 2002, quando uma grande loja de vinhos estava encerrando suas atividades em Florianópolis, aproveitei a queima de estoque e comprei a safra de 1991 do Georges de Latour por R$ 54,00 (US$ 23/24 na época). O preço estava bastante defasado, pois nos Estados Unidos as safras recentes já eram comercializados por 100 dólares ou mais.
Fiquei impressionado pela qualidade e sonhava prová-lo novamente. Depois de 16 anos de espera, chegou a minha vez de visitar a vinícola e lá pude provar quatro safras de períodos evolutivos bem distintos, podendo comprovar que realmente esse Cabernet Sauvignon é excelente e apto para a longa guarda.
A vinícola fica no coração de Rutherford, pequeno povoado próximo a cidade de Napa, com acesso fácil pela Estrada 29 que corta Napa Valley.
Trata-se de um vinho icônico, que há décadas figura entre os melhores dos Estados Unidos, servido inclusive nos eventos presidenciais por sua incontestável qualidade.

Vamos às minhas notas de prova:

1) Safra 2014, com 14,9% de álcool: safra corrente que está sendo comercializada na vinícola.
Vinho potente, concentrado e complexo e com enorme potencial de guarda.
Muito escuro, fechado e aromático. 55% do vinho já fermenta em pequenas barricas francesas, no melhor estilo de Michel Roland que dá consultoria para a vinícola desde 2010.
Em boca é macio e fácil de beber. O elevado teor alcoólico contribui nesse aspecto.
Perfil elegante e muito saboroso, com taninos presentes e acidez equilibrada.
Muitas notas de groselha madura, cassis, alcatrão e grafite.
Precisa de muitos anos de guarda para o auge. Estimo 15 anos no mínimo, estabilizando com 10 anos mais.
Em suma: é um vinho excelente (nota 94/96). Recebeu 97 pontos de Robert Parker e 96 de James Suckling.
Custa US$ 145,00 na vinícola.

2) Safra 2007, com 14,8% de álcool: a safra 2007 ainda estava incrivelmente concentrada para um vinho com 11 anos de idade.
Aquele escuro negro, fechado, quase nanquim.
No nariz era intenso e complexo, com uma leve evolução para frutas passas. Mas o perfil é de amora negra, cassis e geléia de ameixa. Também defumados, chocolate amargo e grafite.
É mais que o 2014, mas com o mesmo perfil tânico amalgamado. Longo retrogosto e com uma persistência concentrada de fruta madura.
É excelente também, talvez ligeiramente inferior ao 2014, mas com longo período de maturação pela frente (nota 93+).
Recebeu 95 pontos de Robert Parker, 96 da Wine Enthusiast e 91 da Wine Spectator.
Não consta mais nas listas de comercialização da vinícola.

3) Safra 1984, com 13% de álcool: como curiosidade foi-me apresentada a safra de 1984.
Eu considerei esse vinho passado, pois realmente não tinha mais nada de fruta fresca madura.
A coloração já era bem alaranjada e o vinho parecia um Tawny 20 anos pelo excesso de oxigenação.
Notas bem terciárias no nariz e sempre focado nas frutas passas e no balsâmico. Bem ácido em boca pelos 34 anos de idade.
Enfim, como curiosidade, é sempre válido.

4) Safra 1976, com 13,5% de álcool: ao servir a safra 76 o atendente destacou a qualidade superior da safra, logo perceptível pela coloração mais "inteira" que a do vinho anterior.
Incrivelmente esse vinho estava mais vivo que o 84. Passado também, mas ligeiramente mais vivo e mais saboroso.
O foco é na ameixa e no damasco secos.
Bem macio, lânguido, sem qualquer estrutura em boca, mas com 42 anos não se poderia esperar outra coisa.
Como curiosidade, é válido, mas não recomendo deixar um vinho desse nível envelhecendo por tanto tempo. Entre 15 e 25 anos é mais que suficiente.
Não é mais comercializado.

Algumas fotos do local, com destaque para a estátua de André Tchelistcheff, grande enólogo da Beaulieu e responsável pelo Georges de Latour. Também uma foto da garrafa da safra de 2013 que comprei e trouxe para a adega. Vou degustá-lo com meu filho Felipe quando ele fizer 18 anos.







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