CHARDONNAY, puro e cristalino.

Minha forma de ver a Chardonnay mudou completamente depois que visitei Beaune, Mersault, Puligny, Chassagne e Saint-Aubain.

Até mais que a impressão que eu tinha da Pinot Noir, pois, apesar de crescerem lado a lado em muitos vinhedos locais, a expressão in loco da Chardonnay me pareceu sublime, pura e num nível de entendimento que ainda não possuía, mesmo já tendo degustado centenas de vinhos dessa nobre região.

Como uma clarividência! Uma revelação! E hoje posso afirmar que um grande Chardonnay está entre minhas primeiras opções no mundo dos vinhos.

O tema dessa jornada não poderia ser mais especial. Cláudio e Gustavo possuíam duas excelentes garrafas de Puligny e Mersault, de ótimas safras, bem conservadas e de grandes produtores. Eu comprei o que de melhor tem na Argentina e na América do Sul e Marcelo nos brindou com uma garrafa de Esporão Reserva Branco 2008, que, apesar de não ser Chardonnay, estava excelente.

O Puligny é sempre mais incisivo, com uma acidez mais elevada, notas verdes de alecrim e um retrogosto ligeiramente amargo. Mersault é mais denso em boca, mais redondo e prazeroso no primeiro ataque. O argentino foi uma surpresa, já que nunca o havia provado, esse que é o Chardonnay mais pontuado da atualidade na América do Sul.

Vamos aos vinhos:

Esporão Branco Reserva 2008 - DOC Reguengos - Alentejo, Portutal - 14,1% v/v.
Esse vinho é um clássico e nunca decepciona, além de possuir uma excelente relação preço/qualidade.
Resulta de um corte de Antão Vaz, Arinto e Semillon.
Em razão da idade se encontrava bastante opulento e com a coloração dourada.
Notas de mel e também minerais, notas químicas de plástico seco. Também abacaxi e manga.
Boa acidez e bom volume de boca, com leve amargor final.
Excelente, principalmente pela idade (nota 90).
É importado pela Qualimpor e custa cerca de R$ 106,00/US$ 29,50.

Catena - Chardonnay White Stones 2009 - Adrianna Vineyard - Mendoza - Argentina - 13,0% v/v.
Famoso vinhedo da Catena localizado em Gualatallary, Tupungado, ao sul da cidade de Mendoza. Além de grandes Malbecs, também é fonte de excelente Chardonnays.
Completando seu oitavo ano da colheita, já se encontrava bem dourado no aspecto visual.
Dos Chardonnays degustados, foi o que apresentou a menor acidez. Mesmo assim, a tão propagada "mineralidade" do White Stones estava presente, o que é algo raro em se tratando de vinhos argentinos.
Apesar disso, o encontrei meio "cansado/passado" no nariz, iniciando sua fase descendente.
Em boca também pareceu o mais "ralinho" dos três e com menor persistência em boca. Ligeiramente amargo ao final.
Bem, ao final, o achei muito bom (nota 89), mas que merece uma nova prova de uma safra mais jovem.
Nesta safra havia recebido 95/96 pontos de Parker e em 2011 recebeu 97 pontos, o que, sob qualquer ângulo, me parece totalmente exagerado.
É importado pela Mistral/R$ 536,47 (cerca de US$ 175,00).

Joseph Drouhin - Perrières 1er Cru 2007 - AOC Meursault 1° Cru - Bourgogne - França - 13,5% v/v.
Excelente vinho, com notas exóticas de uma fruta tropical perfumada. Algo como carambola e cupuaçu.
Ainda bem clarinho e everdeado, apesar dos quase 10 anos de idade.
Flores brancas no nariz, limão, pedra moída e uma barrica nova bem nítida; boa barrica. Seria um estilo "novo mundo" de Mersault.
Boca com boa densidade, mas não tão cheio como outros Mersaults que já provei. Longo e com ligeiro amargor resinoso ao final.
É um grande vinho, exótico, mas muito elegante e perfumado.
Excelente (nota 92). Muito jovem ainda, esse vinho irá envelhecer muito bem. Entre 8/10 anos para o auge.
É importado pela Mistral a R$ 927,27 (cerca de US$ 303,00). Realmente muito caro no Brasil, infelzmente.

Olivier Leflaive - Referts 1er Cru 2009 - AOC Puligny Montrachet 1° Cru - Bourgogne - França - 13,5% v/v.
Para mim esse foi o melhor branco da noite.
Curiosamente, esse vinhedo fica na divisa com Mersault e está muito próximo ao vizinho Perrières.
Coloração evoluindo para o dourado, mas ainda bastante clarinha.
Bem aromático e com boa complexidade, com notas de sálvia/alecrim, mel, manga, leve baunilha calcário e resina.
Densidade média em boca, com ótima acidez e ligeiro amargor resinoso. Um típico Chardonnay de estirpe.
Particularmente eu o achei excelente e o melhor da noite, pois alia potência com uma excelente acidez. Um grande vinho (nota 92/93). Vai muito longe também.
Não é importado.

Casale del Giglio - Aphrodisium - Lazio - Itália - 2008 - 10,5% v/v.
Novidade trazida pelo Cláudio.
É um vinho de sobremesa, composto por um blend de Petit Manseng, Viognier, Fiano de Avelino e Greco di Tufo.
É bem doce em boca, com algo de laranja seca, passas e também algo de resina e própolis.
Tem ótima acidez, o que ajuda a equilibrar a doçura e um volume de boca médio.
Realmente gostei bastante. Um experiência nova.
Excelente (nota 90).
Não é importado.

Royal Tokaji Wine Company -Tokaji Aszú 5 Puttonyos - Hungria - 2008.
Um clássico que não tem erro. Vinhos de meditação e de enorme reputação.
Âmbar claro no visual.
Nariz intenso e complexo, típico de Tokaj: cera de abelha, botritys, figos secos, casca de laranja, tostados, caramelo.
Saboroso, intenso, com ataque fresco (acidez pungente), talvez até demais. Longo, cítrico, com leve amargor final de laranja amarga. Retrogosto longo e marcado por notas cítricas de damasco, tostados e mel.
Excelente (nota 91/92). É um grande vinho, sempre, num estilo mais austero e ácido de elaboração da Royal Tokaji.
É importado pela Aurora/Inovini e encontrei no site da Wine a R$ 410,00 a garrafa de 500 ml (cerca de US$ 134,00).
Deixo algumas fotos dos vinhos provados na degustação e outras da minha viagem a paraíso da Chardonnay. 


















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